sábado, 18 de maio de 2013

PERFIL DO AUTOR - ENTREVISTA - Oscar Nestarez



PERFIL DO AUTOR – ENTREVISTA
Maio 2013 – OSCAR NESTAREZ
Fontes da Ficção – Oscar, primeiramente, agradeço por nos conceder esta entrevista e começo pedindo para que fale um pouco do início de sua carreira como escritor.
Oscar Nestarez – Ora, sou eu quem agradece o convite, porque, na verdade, a minha carreira acabou de começar - oficialmente, digamos assim. Eu escrevo faz bastante tempo, mas só agora publiquei meu primeiro livro. E fico honrado por poder falar sobre isso aqui no Fontes da Ficção, que é referência no assunto.

Fontes da Ficção – Bem, vamos às perguntas de praxe: quais são seus escritores preferidos?
Oscar Nestarez – Hum, sou o que se pode chamar de um onívoro literário. Com exceção de autoajuda e coisas assim, gosto de praticamente todos os gêneros – desde que bem trabalhados, claro. Mas a literatura fantástica (especialmente de horror) foi a minha primeira paixão, e até hoje temos uma relação muito intensa. Ainda que os mais diversos autores frequentem a minha cabeceira, você sempre vai encontrar algum exemplar abissal por lá. Nesse sentido, eu diria que os habitués são: Poe, Lovecraft, Bioy Casares, Borges, Clive Barker e Ramsey Cambell, na seara do fantástico; e, fora dela, Lobo Antunes, Faulkner, Dostoiévski, Thomas Mann, Louis-Ferdinand Céline, Joseph Conrad, Cormac McCarthy, e por aí vai.

Fontes da Ficção – O seu livro POE E LOVECRAFT – Ensaio sobre o medo na Literatura teve sua gêneses no sua monografia de faculdade, certo?
Oscar Nestarez – Sim. Há um par de anos eu cursei pós-graduação em história da arte, e felizmente havia a possibilidade de se elaborar uma monografia sobre literatura. Como eu sempre quis entender melhor o gênero do fantástico (claro que pesquisar as vidas e as obras de Poe e Lovecraft também foi um baita estímulo), a ocasião foi perfeita para isso.

Fontes da Ficção – Quais foram basicamente as alterações que focê fez da monografia para o livro? Você incluiu mais alguma coisa ou somente transportou o texto para a escrita menos acadêmica?
Oscar Nestarez – Como o período entre a conclusão da monografia e da publicação do livro foi curto, as alterações foram basicamente de estilo. Não promovi nenhuma inclusão significativa, só reescrevi boa parte do texto para torná-lo mais leve, menos sisudo.

Fontes da Ficção – O que você achou da sua estreia no mundo literário, como escritor, evidentemente?
Oscar Nestarez – Foi, literalmente, um divisor de águas. E por um motivo muito simples: depois que vi o livro publicado, eu me senti muito mais encorajado a escrever. Vi que tinha rolado, que as ideias estavam ali, impressas, e que era pra valer. Antes, a coisa me parecia um tanto distante, inatingível; mas, hoje, há mais portas de entrada para os autores de primeira viagem.

Fontes da Ficção – Você pretende permanecer nessa linha “didática” ou tem planos para enveredar pela Literatura Fantástica de romances?
Oscar Nestarez – Segunda opção, definitivamente. Apesar de ter adorado pesquisar a cronologia da literatura fantástica e as biografias de Poe e de Lovecraft, gosto mesmo é de escrever ficção.


Fontes da Ficção - Na sua opinião, um escritor de Literatura Fantástica que deseje ter suas obras lidas deverá, em algum momento, escrever algo sobre vampiros? Você tem algum estilo literário favorito? Qual? 
Oscar Nestarez – Acredito que o fato ter obras “lidas” é um tanto relativo. Pessoalmente, confesso que ainda não entendo direito como funciona meu processo criativo. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o tema surge involuntariamente, não é premeditado. Em outras palavras, eu não tenho muito poder de decisão sobre o que vou escrever. A coisa simplesmente vai se formando, vai se tornando evidente, até que eu possa observá-la para colocá-la no papel. E, se pelo menos outra pessoa além de mim se envolver com isso, já me sentirei satisfatoriamente “lido”. Porém, claro que existe a questão comercial – e, nesse sentido, “ser lido” tem uma valência completamente diferente. E, atualmente, parece-me que escrever sobre vampiros contribui para isso, porque o público está topando ler. Mas, e amanhã? Quanto ao estilo literário favorito, continuo onívoro. Amo a ficção em geral, com preferência para aquela que nos carrega até o sublime.

Fontes da Ficção – O que você acha do cenário literário brasileiro no geral?
Oscar Nestarez – Atualmente? Puxa, acho que não posso dar uma opinião muito aprofundada; mas, do que tenho lido, parece-me promissor e vibrante. Há vários nomes de muito talento despontando, além de alguns já estabelecidos. São autores que estão propondo novas temáticas, atualizando o nosso discurso literário. Do que li recentemente, só posso falar com propriedade do “Barba ensopada de sangue”, de Daniel Galera, de que gostei pacas. E também do “Nove noites”, de Bernardo Carvalho, cuja evocação ao “Coração das trevas”, de Conrad, me surpreendeu. Mas, como todos sabemos, não somos um país de leitores. Dos 180 milhões de brasileiros, a parcela da população literariamente ativa deve ser irrisória. Aí a questão é mais profunda, de formação e educação, e a discussão é de outra ordem. De todo modo, estamos fazendo a nossa parte, as coisas estão acontecendo. Feiras e eventos se espalham pelo país, novas editoras abrem as portas... Posso estar errado, mas acho que nunca tivemos tantos novos autores como agora. E isso é auspicioso.

Fontes da Ficção – Agora vamos nos concentrar na Literatura Fantástica Nacional. O que você acha dela? Tem futuro? E os novos autores desse gênero, o que me diz deles?
Oscar Nestarez -  Tampouco posso opinar com propriedade. Mas, do que espiei, e nisso o “Fontes” ajudou bastante, com a divulgação dos nossos principais nomes do gênero, dá para ver que tem muita coisa boa, muitas ideias originais. Tenho a impressão de que é um gênero que se desenvolve bastante, talvez o que mais cresça no cenário atual, com cada vez mais leitores interessados. E, visitando feiras e encontros temáticos, vejo que esse interesse se confirma, o que é fundamental.

Fontes da Ficção – Que outros autores da Literatura Fantástica, tanto nacional como estrangeira, você recomendaria?
Oscar Nestarez – Como estou começando, confesso que não sou muito familiar com os nomes daqui. Mas gostei de uma série de textos que li no Fontes, como do Leonardo Brum. Das antigas, cito o Alphonsus de Guimaraens, que, apesar de não pertencer especificamente ao gênero fantástico, conseguia imprimir, aos relatos, uma estranheza e um assombramento muito inspiradores. Dos estrangeiros, vou me ater aos vivos. Então eu citaria novamente o Clive Barker, que, apesar de atualmente não produzir significativamente, tem uma obra espantosa, tanto em contos como em romances. Acho a série dos “Livros de sangue” espetacular, os volumes me influenciaram muito a começar a escrever histórias curtas. Adoro o “Raça da noite”, e, do “Hellbound heart” (que deu origem ao Hellraiser), nem se fala. Gosto muito também de outro inglês, o Ramsey Cambell. O cara é mestre em compor histórias curtinhas e aterradoras.

Fontes da FicçãoE com relação ao mercado editorial? Nesse “novo mundo moderno”, digitalizado e virtual, você acredita que o livro convencional estará morto num futuro próximo?
Oscar Nestarez – De forma alguma. O e-book sem dúvida é uma realidade já estabelecida, e é questão de tempo para se difundir ainda mais (os tablets ainda são um pouco caros).
  
Mas, por mais que as novas gerações desprezem ou até desconheçam o livro físico, em minha opinião eles existirão a perder de vista. Porque o leitor se relaciona com eles de forma muito mais íntima - claro que me refiro aos cupins, como eu. Quando abro hoje um e-book que li faz tempo, dele não se desprende aquele aroma de passado, ele não carrega o espectro da pessoa que eu era quando li a primeira vez. Sei que é uma visão um tanto romanceada, mas é como penso. Por isso, por causa dessa experiência, penso que sempre haverá uma reserva de mercado para os livros “analógicos” – às vezes maior, às vezes menor, dependendo do modismo em voga (vide o advento do vinil).

Fontes da Ficção - Você vê a internet e seus novos recursos como uma escolha a mais para publicar?
Oscar Nestarez – Ô. A facilidade e a praticidade que a web oferece não têm precedentes, conheço pelo menos duas pessoas que já se autopublicaram só via digital, na raça. Claro que todo o processo fica um pouco manco, sem distribuição ou divulgação, ou até sem uma “oficialidade”. Mas é sem dúvida uma alternativa. A net também pode contribuir muito com a formação de um jovem autor, já que ele pode submeter textos aos comentários do mundo. Pelo menos pra mim, nesse sentido, ajuda - e muito.

Fontes da Ficção - Porque o jovem leitor brasileiro deveria ler sua obra?
Oscar Nestarez – Olha, porque, se ele se interessa ao menos por um dos dois autores, Poe ou Lovecraft, acho que encontrará ali um texto apaixonado, com referências que acredito serem originais e conexões com a nossa atualidade.

Fontes da Ficção – Quais são seus novos projetos?
Oscar Nestarez– Essa é fácil: contos românticos/fantásticos. Românticos no sentido literal do termo, que significa o desprezo à racionalidade, o mergulho nas vastidões de si mesmo, a tragédia da condição humana, a selvageria dos sentimentos (por mais grandiloquente que soe). E fantásticos porque a sobrenaturalidade está sempre presente, nas mais repulsivas formas.

Fontes da Ficção - Vamos fazer um pequeno Bate-Volta.
Oscar Nestarez – Com prazer.

Fontes da Ficção - Tipo de Música Preferida:
Oscar Nestarez -  Hoje, dark ambient e ritual noise
Fontes da Ficção - Melhor Cantor(a) Estrangeiro(a):
Oscar Nestarez -  Lisa Gerrard (Dead Can Dance)
Fontes da Ficção - Melhor Cantor(a) Nacional:
Oscar Nestarez – Olavo Rocha (Lestics)
Fontes da Ficção - Melhor Filme Estrangeiro
Oscar Nestarez – Aguirre, a cólera dos Deuses (Werner Herzog)
Fontes da Ficção - Melhor Filme Nacional:
Oscar Nestarez – Hoje, “O som ao redor” (Kleber Mendonça Filho)
Fontes da Ficção - Duas Influências Literárias Estrangeiras:
Oscar Nestarez – Edgar Allan Poe e Joseph Conrad
Fontes da Ficção - Duas Influências Literárias Nacionais:
Oscar Nestarez – Machado de Assis e Guimarães Rosa
Fontes da Ficção - Comida que mais gosta:
Oscar Nestarez – Hoje, aquele churrasco convivial japonês, o Shabu-Shabu
Fontes da Ficção - Carro dos sonhos:
Oscar Nestarez – Não sou muito fã de carro, na verdade. Acho que o mundo já está saturado deles. Digamos que eu sonhe com trevas, não com carros. hehe
Fontes da Ficção - Objetivo na vida:
Oscar Nestarez – Concluir, no apagar das luzes, que valeu a pena.

Fontes da Ficção - Obrigado pela entrevista e fique a vontade para suas palavras finais.
Oscar Nestarez – Eu que agradeço, foi muito agradável! E torço para que o site continue sendo exatamente isso: uma fonte de inspiração e de ótimo conteúdo fantástico para tanta gente.

Informações Úteis
Site do Autor: vale o Facebook? http://www.facebook.com/home.php
Contato com o Autor: oscar.nestarez@gmail.com


2 comentários:

Roberta Okura disse...

Adorei a entrevista!!
Bem completa!!
Perguntas interessantes e apropriadas, respostas inteligentes e muito inspiradoras.
Meus parabéns e muito sucesso!!!

Unknown disse...

Sensacional, Oscarito! Sensacional...

Postar um comentário