quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Portador da Luz - Parte Final

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         Entre o alerta da Logística e a preparação de uma força militar de emergência, sitiada no Rio de Janeiro, e envio ao Corcovado, passou-se pouco mais de meia hora. Eram dois veículos médios velozes, que transportavam um total de quinze homens, fortemente armados e especialistas em ações relâmpagos, sob o comando do capitão Gurgel.
       – Sem complicação ou hesitação. Chegamos, entramos, anulamos a presença hostil e finalizamos.
       – O indivíduo tem mesmo uma bomba atômica, capitão? Difícil acreditar, não?
        O capitão voltou-se para o sargento, veterano tarimbado, com anos de experiência em ações de assalto relâmpago.
        – Foi o que disseram. Não ligo a mínima se ele tem uma bomba atômica, uma montanha de dinamite ou traques de São João. Nossas ordens são para eliminar a ameaça, inclusive com força letal, se necessário.
        – Mas capitão, e se esse louco resolver explodir tudo, assim que entrarmos? – questionou um dos soldados.
        – Tá com medo de morrer, moleque? – respondeu um colega, mais atrás. – Pense assim, se isso acontecer, e esse maluco tiver mesmo uma bomba atômica, ele irá mandar todos nós para o ar, junto com o Rio de Janeiro! Cê vai passar desta para melhor, tendo a cidade maravilhosa por companhia!
       O capitão Gurgel chegou a sorrir, pelo gracejo.
       – Ossos do ofício, rapaz. Quando você vestiu essa farda, sabia que sua vida poderia estar em jogo, a qualquer hora. Mas não se preocupe – prosseguiu, em tom conciliador – otimismo faz parte das qualidades desta equipe. Vamos chegar e eliminar a ameaça. O resto, depois, será história.
        Em hipótese alguma, o capitão Gurgel imaginava quão verídica seria aquela última frase.

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       Ignorando a força militar que se movimentava e se dirigia às pressas, para o Corcovado, Moisés apenas aguardava, olhando constantemente em seu relógio. Naquela manhã, os demais trabalhadores haviam sido dispensados, e ele se encontrava ali sozinho, compartilhando aquele momento de paz, apenas com o vento e o céu límpido e ensolarado. Como lhe haviam prometido, a grande caixa fora instalada, e caberia a ele apertar o botão.
        Moisés era um misto de orgulho e ansiedade, a cada instante que se passava, com o tempo correndo para o derradeiro momento. O resto não importava, nada mais importava. Ele seria o braço de Deus, e para tanto, não se preocupava que pudesse perder a vida nesse ato, mesmo porque, não seria a morte. Na verdade, seria o renascer para a verdadeira vida, aquela que é eterna e onde não havia pecado ou sofrimento, onde finalmente encontraria o esplendor de ser e o carinho tanto almejado. Conforme lhe garantira o bondoso, porém austero, senhor Renan, entregar a vida, em nome do Senhor, não é pecado; é uma oportunidade única, sem precedentes.
        Moisés voltou-se uma vez mais para o relógio. Faltavam alguns segundos para o meio dia. A hora se aproximava. A luz e a palavra; o raio e o trovão se fariam presentes. Em seus pensamentos, uma frase que Renan lhe dissera, há poucos dias, ecoava com força e vigor.
       O castigo divino não pode vir através de um controle remoto. Deve vir através das mãos de seus seguidores. Suas mãos, Moisés!
       Sem dizer nada, com um sorriso calmo e sereno, mas radiante, como em êxtase, ele pressionou o botão.

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         Os dois veículos avançavam velozmente. O que vinha à frente freou de leve, antes de iniciar o contorno da última curva, que o levaria diretamente à frente do monumento. Em dois ou três segundos, iria contorná-la e parar defronte à estátua.
         Contudo, aqueles segundos derradeiros se perderam na eternidade.

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        Primeiro veio a luz invisível, que precedeu o silêncio.
        Por frações imperceptíveis de segundos, as pessoas ficaram transparentes; tudo ficou transparente.
        A seguir veio o raio, e todos ficaram cegos; contudo, não chegaram a se aperceber disso. Nessas mesmas frações de segundos, foram todos instantaneamente vaporizados pelo fogo, a temperatura beirando próxima a um milhão de graus centígrados. A água do mar entrou em ebulição e se vaporizou, assim como ferro e concreto.
        E só então, em meio a ventos avassaladores, veio o trovão.
        No entanto, já não havia nada, nem ninguém, vivo para escutá-lo.

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        Estados Unidos. Noticiário noturno da CNN.
       – Boa noite. O mundo chocado e em alerta – iniciou o âncora com a manchete de destaque. – O mundo ainda está em estado de choque pelo ocorrido no Rio de Janeiro,
Brasil, há algumas horas, apenas. A notícia do primeiro atentado nuclear assombrou os governos de todos os países, uma temeridade real entre muitos que se vêem envolvidos com ameaças terroristas. Mas ninguém poderia imaginar que uma tragédia dessas proporções atingiria um país que não possui participação direta em tais questões. As preliminares indicam mais de dois milhões de vítimas fatais, mas esse número ainda deve aumentar, nos próximos dias, por causa da intensa radiação que assola a região devastada, e pelos ventos, que devem espalhar esta mesma radiação para áreas adjacentes.
        A figura do repórter foi substituída por imagens da tragédia.
        – No momento, é impossível de se determinar a extensão dos danos, mas seguramente é o maior desastre ecológico do planeta, bem como o de vítimas causada por uma arma de destruição em massa, e tudo devido ao fanatismo e a loucura de um homem, João Cândido Renan, um pregador intolerante com os demais, em relação às suas crenças. Após o ocorrido, Renan foi localizado na sede da Igreja da Luz e da Revelação. Pelo que foi apurado, em sua loucura, Renan não procurou fugir e pretendia fazer uma declaração, aos meios de comunicação, exaltando a todos à volta a uma vida regada e austera, se quisessem fugir à punição de Deus. Contudo, quando cercado pela polícia e agentes de segurança, João Cândido Renan fugiu pela única saída que tinha, atirando-se do décimo andar de seu prédio. Todos os demais envolvidos com a direção da entidade foram detidos.
        As imagens desapareceram, voltando ao âncora.
        – O ocorrido não deixa dúvidas, e a verdade se mostra ao mundo da maneira mais dolorosa possível. O fanatismo, em todas as suas extensões, é hoje, seguramente, o maior medo da humanidade.
        Em seguida, há o corte para os comerciais, retornando ao âncora, instantes depois.
        – E atenção, notícia de última hora. Conforme se apurou, João Cândido Renan estava de posse de duas ogivas nucleares. O paradeiro da segunda é desconhecido.

FIM?

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